Comemoração dos Fiéis Defuntos
Foto: Pintura em tela que fica no Presbitério pintada por Oscar Pereira da Silva. Esta tela apresenta a morte de São José. Ela mostra o momento de reunião em que alguns dos presentes são homens e outros, santos. É imprescindível a presença da Santíssima Trindade (o Pai, o Filho e o Espírito Santo) e da Sagrada Família. A presença deles remete à coerência da vida de São José como justo e santo, aos olhos de Deus e dos homens. A porta do céu está agora aberta para receber o grande patriarca São José.
A oração pelos mortos esteve em uso entre os cristãos desde as origens. A crença no purgatório e a eficácia da oração a fim de apressar a purificação das almas dos defuntos, bastam para a explicar; é muito inútil tentar aproximá-la, tal como a temos, como as das outras religiões; tais esforços nada provariam a não ser constituir o respeito pelos mortos um sentimento natural de homem que, na diversidade dos tempos e dos lugares, apresenta analogias.
Fora dos enterros e dos aniversários individuais, os cristãos rezavam por todos os defuntos, com a intenção de aqueles que não tinham deixado na terra nem parentes, nem filhos, nem amigos não ficassem, todavia, abandonados. Santo Agostinho menciona este uso e louva a bondade da Igreja que é a Mãe de todos os fiéis.
Era normal atribuir um dia particular a estas orações solenes. A Igreja bizantina fixou-o no sábado que precedia o último domingo antes da Páscoa, que marca para ela o princípio da quaresma; e a Igreja siríaca, na sexta-feira dessa mesma semana.
No Ocidente, o costume de consagrar um dia à oração pelos defuntos era quase geral nos mosteiros do século VII, mas os dias variavam e tratava-se primeiro que tudo de orar pelos irmãos. Mesmo certas Igrejas não monásticas tinham costumes análogos.
No século IX, contudo, Amalário tratando dos divinos ofícios, colocava o dos mortos depois do dos santos, considerando que os defuntos, que depois da morte não eram colocados no número dos santos e tinham necessidade de orações, se encontravam numa linha intermédia entre o céu e a terra. Não se tratava, para Amalário, de colocar a comemoração dos fiéis defuntos a 2 de Novembro, pois ele ignorava ainda a festa de Todos os Santos existente no século primeiro.
Foi o abade de Cluny, Santo Odilon, quem decidiu que, do mesmo modo que era celebrada em toda a terra nas calendas de Novembro a festa de Todos os Santos, assim houvesse nos mosteiros clunienses a comemoração de todos os fiéis defuntos desde o começo do mundo até ao fim… Os seus biógrafos, Jotsaldo e S. Pedro Damião, contam que um peregrino da Aquitânia voltando da Terra Santa tinha encontrado um eremita que, ao saber da sua nacionalidade, lhe entregara um recado para Odilon: o eremita ouvira os demônios queixarem-se de as almas lhes serem arrebatadas pelas orações dos Clunienses. Esta notícia, ao que se diz, incitou o abade de Cluny a multiplicar os sufrágios pelos defuntos.
O decreto de Santo Odilon nenhuma alusão faz a esta maravilha. Talvez o abade, ao escolher o dia 2 de Novembro para uma comemoração dos defuntos, tivesse no espírito a aproximação já feita por Amalário. Desde Sigeberto de Gembloux, apresenta-se a data de 998 para esta instituição; Santo Odilon só quatro anos antes tinha subido a abade.
O costume cluniense foi-se espalhando pouco a pouco, mas só nos séculos XIII e XIV se tornou geral.
Até a reforma do breviário romano por S. Pio X, o ofício dos defuntos vinha juntar-se ao ofício da oitava de Todos os Santos; desde 1913, este dia foi dotado de ofício especial, juntando novas vésperas às segundas do 1° de Novembro.
O convento dos dominicanos de Valência, na Espanha, tinha um número de túmulos tão considerável que os religiosos, não podendo satisfazer todos os pedidos de Missas para 2 de Novembro, tomaram o hábito de celebrar cada um duas ou três. O Ordinário tolerava este costume, que foi sancionado e estendido a toda a Espanha e a Portugal a às suas respectivas colônias por Bento XIV em 1748. Em 1915, estendeu Bento XV este favor à Igreja universal pensando nos mortos da guerra, nas fundações espoliadas e nos pobres que, devido à carestia da vida, não podem encomendar Missas.
Fonte: livro antigo